Jaqueline Naujorks

Não Sou Obrigada 54156

Tati Machado e o pecado de dançar 5e2kf

Por que a mulher fora do padrão é criticada mesmo no pódio? 4j136m

Tati Machado é uma mulher talentosíssima: jornalista, apresentadora, oratória impecável, intelecto de milhões e uma grande aptidão para a dança. Mas no Brasil dos corpos perfeitos, isso não é o bastante. No dia em que Tati ousou dançar em rede nacional, uma massa de gente desocupada resolveu tomar as redes sociais destilando um tipo de ódio muito específico.

Na cabeça das pessoas, a mulher gorda não tem o direito de brilhar em lugar nenhum, porque o lugar de destaque em concursos que envolvam imagem pertence a quem que está no padrão e, consequentemente, seja mais agradável aos olhos: uma miss, uma modelo, uma influencer magra. Figuras que “fiquem bem” em roupas curtas e justas. O tiktok está lotado de mulheres fazendo todo tipo de dancinha – mas quando uma dançarina plus size faz a mesma coisa, a reação comum é o deboche.
Por quê?

Quando eu tinha 16 anos, pesava 122kg. Sou filha de uma mulher gorda, e cresci sem entender por que eu e minha mãe recebíamos aquele olhar. Eu não entendia a emoção que aquela gente esboçava, silenciosamente, quando usava minha camiseta vermelha favorita ou quando usava maiô. Não entendia por que olhavam fixamente para minha mãe na rua, enquanto ela caminhava com dificuldade. Hoje entendo a emoção estampada no rosto das pessoas. Era nojo.

Como boa asmática, nunca fui boa em esportes, mas amava dançar. Tenho fotos maravilhosas de criança, usando uma fralda amarrada na cintura como saia e outra na cabeça simulando um cabelão, ensaiando os na sala da nossa pequena casa, ao som de um disco do Abba. Na minha cabeça, estava em um teatro lotado, ao som de aplausos calorosos de uma audiência que gostava de mim. Não sabia que no mundo real, bailarina precisa ser magra.

Na escola participava de todos os grupos de dança, sabia todos os os dos hits famosos da época, de Axé a Spice Girls. Amava a parte das coreografias elaboradas, da disciplina. Lá pelos 14 anos ei a notar que toda vez que dançava em público, era observada com aquela expressão, metade nojo, metade pena. As pessoas riam de mim. Os pais cutucavam os filhos para olharem, professores iravam a destreza da menina gorda, colegas colocavam apelidos horríveis. Em 20 anos, essa cultura não evoluiu em absolutamente nada.

Você pode até dizer que o movimento body positive melhorou muita coisa, e apesar de concordar em partes, vejo que a reflexão acontece com quem conhece de alguma maneira a dor do preconceito. Na pessoa escrota mesmo, que precisa aprender a ficar calada, o movimento não faz nem cócegas. Nem esse, nem qualquer outro movimento que legitime a empatia.

Tati Machado danca dos famosos 1
Tati venceu a competição 2024 (Foto: Rede Globo)

Nas redes sociais, que todos sabemos que é o esgoto da sociedade, onde o pior da criatura aparece escondido pelo seu perfil fake, a dança de Tati incomodou muita gente. O mais interessante é que, com medo do cancelamento, os comentários diziam que ela só ganhou a Dança dos Famosos porque seu peso é pauta de militância. É o mesmo tipo de gente que diz que a médica negra, que se formou em 1° lugar na Federal e ou para especialização internacional com mérito, só conseguiu por conta de cota.

Tati era só uma competidora entre os demais, se esforçando para fazer bonito em uma atração cujo desafio é a evolução. Quem transformou o peso dela em uma pauta foi a sociedade, que não consegue dissociar o talento de uma mulher do tamanho de seu manequim.

Quero estar viva para ver o dia em que o natural não será tratado como extraordinário. No dia em que for normal a mulher negra ser desembargadora, a pessoa com deficiência ser atleta de alta performance, a empresária ter mais de 70 anos, a mulher fora do padrão ser campeã do concurso de dança, no dia em que a palavra “superação” não estará atrelada a nenhuma condição física. E ouso dizer que é fácil começar: basta deixarmos as pessoas em paz.

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Este conteúdo reflete, apenas, a opinião do colunista Não Sou Obrigada, e não configura o pensamento editorial do Primeira Página.

Comentários (1) f186e

  • Brigida Aparecida da Silva Godoy

    O pior defeito da pessoa que menospreza o que não segue o seu padrão social é:não se amar e não permitir que as pessoas sejam amadas, é inveja daquilo que jamais será:uma pessoa humana,respeitosa,digna , Tati machado vc é top,e nem liguei para o que falam,nem vale a pena ler e ouvir tamanha indignidade, continue brilhando e os comentários são indignos e só

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