Pequeno manifesto ao pai que não faz mais que a obrigação 1g171l
Quantas vezes você ouviu "tá de babá hoje?", quando estava apenas cuidando dos nossos filhos na minha ausência? 5f3d31
O termômetro marcava 38.7° às 4h15. A febre havia voltado e era a 3ª vez que o pai levantava para atender à filha que, embora fosse a irmã mais velha, tinha só 1 ano e 8 meses à época. A mãe ava as noites a cargo do bebê caçula, que ainda virava madrugadas mamando.

Talvez, não fosse a chegada do mais novo, seria ela a estar na labuta febril madrugada adentro, mas, mesmo sendo quase de praxe em boa parte dos lares que a função do cuidar fique 100% para a mulher, os deveres foram divididos assim naquela casa.
Não houve trato lavrado em ata, missa rezada ou ameaça. As coisas foram se desenhando daquela forma e assim ficaram. O pai trocava fralda, fazia dormir, dava banho, comida, brincava e, vejam só, compartilha (este verbo segue no presente mesmo quase três anos depois) as olheiras e as costas curvadas com a mãe.
Não, não estamos falando de um raro caso em que tudo é dividido igualitariamente e sim, esse pai não faz mais que a obrigação, porém num país em que 6% dos bebês nascidos a cada ano não têm sequer o nome do paterno no registro, há de se itir que ter o pai que não faz que a obrigação é um ponto a mais, infelizmente.
E não estou aqui jogando confete para alguém que faz minimamente o esperado, nada de extraordinário se comparado ao maternar diário de uma mulher, mas, deixando de lado a estatística e humanizando a figura, preciso agora tomar a primeira pessoa deste texto e reconhecer que escolhi dividir minha vida com a metade certa. Pelo menos aos meus rebentos.
Sei que a chegada de um filho muda brusca e completamente a vida a dois. E também sei, aliás, imagino, o quanto deve ser confuso lidar com um bebê e, ao mesmo tempo, se despedir da mulher com quem se casou para receber uma mãe recém-nascida. Aquela que ainda precisa se encontrar nesta nova pele, processo que pode distanciar quem deveria estar mais que unido para adaptação do filho à rotina.
Eu sei que não deve ser fácil se reconhecer pai e assistir de fora a conexão mãe/filho, com todo mundo ainda desnorteado. Também faço ideia do quão incômodo deve ser ouvir piadinhas por ser um pai que tenta se desconstruir numa sociedade machista.
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